Binormativismo: tributo a Carvalho

Eduardo Maragoto DECOTÍO

OPINIÓN

TINO VIZ

17 may 2020 . Actualizado a las 05:00 h.

Vai sendo cada vez maior o grupo de cargos públicos que pensa que o período da Xunta preautonómica (1977-1981) era o momento indicado para implantar a proposta reintegracionista (lusista) de Carvalho. O escritor foi clarividente nos anos setenta: se dotamos o galego de carácter internacional, aumentaremos o seu valor cultural (e económico) e poderemos paliar a crise que chegará a padecer. Agora lamentamos a falta de afouteza daquela Real Academia Galega, que, ignorando a proposta de Carvalho, limitou a amplitude comunicativa do idioma.

 

Intuímos que o galego continuará a perder vigor na sociedade. Simultaneamente, o reintegracionismo continuará conquistando adeptos nos ambientes onde este idioma importa. No entanto, dificilmente poderá conquistar novos públicos até que o poder político invista no tema, e isto só acontecerá se a Xunta chega a entender o importante que é para o galego ficar vinculado ao grupo dos idiomas multinacionais. Aproveitando o Ano Carvalho, vale a pena reflectir sobre se queremos pertencer a este grupo duplamente: polo idioma do Estado e polo «galego internacional» (lusista), ou se para isto nos basta unicamente o primeiro.

 

Estamos a tempo de encarreirar o futuro desta fala que tanto amamos? Evidentemente, sempre que cheguemos aos consensos oportunos. A sociedade, que tanto se transformou comunicativamente nas últimas décadas, continuará a mudar a grande velocidade. Ao mesmo tempo que se globaliza o contacto entre humanos e países, será conveniente dispor de diferentes idiomas para usar segundo o contexto. Dominando os de Cervantes e Shakespeare, e acomodando o de Rosalía ao de Camões, poderemos inaugurar a glotopolítica que faltou nos anos oitenta, a pensada para o porvir socioeconómico da sociedade. Multiplicar as oportunidades comunicativas é a forma idónea de mimar as diferentes identidades idiomáticas dela.

E como pode tomar a iniciativa o poder político para preparar convenientemente este porvir? Garantindo o ensino eficaz dos idiomas mencionados e tolerando o uso de dous modelos de galego: o da RAG, que aprendemos na escola, e o defendido por Carvalho, que vai ao encontro de maior potencial comunicativo. É o chamado binormativismo, aplicado nos tolerantes Luxemburgo e Noruega, pensado para manter abertas portas que talvez precisemos de cruzar no futuro. Como explicou Carvalho neste mesmo periódico: «Estám em jogo [...] duas posturas perante a língua do escritor: a autoritária e a liberal» (Política Linguística, 1988).